terça-feira, 21 de abril de 2009

Ainda no passado

Triste fim o meu. Eu cometi o delito de ser bela e você levado por esta fragrância cometeu um crime ainda maior, permitir que eu o amasse. Como Hugo ressalta, sim, o amor é um delito, mas depois de algumas páginas ele aponta o excludente: é a beleza é um flagrante delito. Ô culpa irascível a minha.

Por vezes uno as tangentes dos assuntos, visto a roupa de julgador e fico enquadrando você em figuras típicas; vou das menores penas às maiores. Primeiro pensei em enquadrá-lo no crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo; você rompeu o mar do meu ego e furtou meu coração, levando-o para muito longe. E a coisa furtada não foi devolvida, perdeu-se; nem para reparar o dano você serviu. Depois, pensei melhor, você devia ser condenado por latrocínio: roubou meu coração e o apunhalou ferozmente, voluptuosamente. Ou será apenas um homicídio majorado por emprego de arma e veneno? Talvez, você mereça a criação de um novo tipo penal cujo nomen iuris seja: MATAR ALGUÉM DE AMOR. Mas, que pena daria para você e para todos os outros que furtam, roubam e matam corações? Prisão perpétua ou morte? Como se eu pudesse existir sem você. É preciso que você exista para que eu sempre lembre que tenho várias vidas e o seu amor só que furtou, roubou e matou, uma delas; a melhor, deveras.

Depois de tudo tenho que admitir que um excludente pode ser suscitado, já que eu mesma arranquei meu coração do peito e te entreguei. Meu ato voluntário, mesmo silencioso, dizia claramente que você podia fazer o que quisesse com ele, e você fez o que achou melhor. Simples, vil e indiferente. E ao final do meu processo inquisitivo, onde sou julgador, defensor e acusador, melindro todos as conjecturas: primeiro, omitindo seu dolo; depois, expropriando-me de tudo o que resta do meu orgulho, absolvo você; e cumpro a pena que você e meu coração perdido me instituíram: continuar vivendo, tentando não sentir seu cheiro em tudo o que vejo, desejando deixar de ver seus sentidos em tudo aquilo que escuto, engolindo minhas tristes lágrimas que sempre vão lembrar dos teus doces olhos criminosos.

escrito em 15/02/2009

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